segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sobre futebol, Hooligans e histórias curiosas...


Por Lucas Orrico

Agosto, historicamente é um marco para o futebol mundial como o mês do desgosto. Coincidência ou não, as maiores tragédias futebolísticas mundiais se passaram nesse mês. No Brasil, ficou marcado a Guerra campal entre torcidas organizadas do Palmeiras e São Paulo no dia 20 de agosto de 1995. Esse mês também já proporcionou invasões de torcidas em treinamentos, protestos em aeroportos, agressões a jogadores, diretores e assim sucessivamente. Claro que os fatos não são exclusividade para o simpático mês de agosto e muito menos pro futebol brasileiro.

Essa moda começou a chamar atenção com o surgimento dos temidos Hooligans na Inglaterra, jovens de nível econômico alto e que sentem ódio e prazer em brigar com torcidas adversárias. O divisor de águas para a Europa foi a final da Copa dos Campeões da Uefa de 1985, torcedores da Juventus e do Liverpool ficaram muito próximos uns aos outros e a pequena quantidade de policiais não conseguiu conter a confusão. Ingleses foram proibidos de jogar torneios europeus por 5 anos. Saldo: 39 mortos.

De onde vem tanta fúria e violência gratuita, em um país considerado fair player? E dos outros países europeus até mesmo sem tradição alguma no mundo da bola? Ninguém sabe onde, quando e como surgiu. Só a História pode explicar.

Na Escócia a religião entra em campo no clássico Celtics e Rangers, o primeiro fundado por padres católicos que queriam homenagear os irlandeses e o segundo formado por protestantes. A população escocesa gostava (e ainda deve gostar) desses embates religiosos no campo, pois assim que a bola rolava quem era católico vestia-se de verde e branco, protestantes de azul e branco, logicamente cada um de um lado do estádio. Para se ter uma idéia desse fanatismo os hooligans do Celtics colocam em sua bandeira a imagem do Papa e apóiam um grupo terrorista irlandês: “Ira”! Já os do Rangers, de tradição protestante anglicana, colocam em suas bandeiras o rosto da Rainha da Inglaterra, cantam o hino do Império Britânico e apóiam o grupo terrorista Protestante: “Ulster”. Nem preciso falar das brigas dentro e fora de campo, né?

No ramo político Partizan Belgrado x Estrela Vermelha, cada time pertencia a um partido, Galatasaray x Fenerbahce, a briga intercontinental, o estádio do Fenerbahce localiza-se na parte asiática de Istambul e outro européia. Para um país tradicional na bola, tem Roma x Lazio na Itália, rivalidade que vem desde os tempos do Coliseu. Exageros a parte, a Lazio tem raízes fascistas, seu mais ilustre torcedor é nada mais e nada menos que Benito Mussolini. A maior parte da sua torcida concentra-se na burguesia romana, enquanto que a Roma finca suas raízes de uma união proletária, que tem como símbolo a loba que amamenta os irmãos Rômulo e Remo, gerando uma simpatia das classes mais populares. Dois times tão próximos geograficamente (dividem o mesmo estádio) e tão distantes ideologicamente são comuns ver manifestações e discriminações fascistas dos torcedores da Lazio.

Entretanto, Londres, a capital inglesa, com 7,5 milhões de habitantes chama a minha atenção. Um lugar onde a constante briga não é provinda de uma cultura religiosa, muito menos partidária. Cada time tem um histórico diferente do outro, seja de classes, raças e influências estrangeiras. Talvez uma briga territorialista. A verdade é que o DNA inglês está ligado ao seu time de coração.

Atualmente, constam 5 times londrinos na divisão principal, porém há outros tradicionais esquecidos em divisões inferiores. A rivalidade mais poderosa da Inglaterra não é Manchester United x Liverpool e muito menos o derby londrino Chelsea x Arsenal, e sim West Ham United x Millwall. Esse último clássico foi tema do filme Hollywoodiano em 2005, Green Street Hooligans com Elijah Wood, mostrando o futebol com sangue, álcool e violência. West Ham é um clube da primeira divisão e Millwall da terceirona inglesa (essa diferença de divisões até me lembra um clássico baiano).

Na Copa da Inglaterra (competição estilo Copa do Brasil da gente), iniciou-se o sorteio. Os pubs (uma espécie de boteco) da Zona Leste estavam apinhados de gente e quando as bolinhas apontaram no confronto deles, explosões de alegria, fogos e gritos de guerra. Guerra que dominava as ruas da Zona Leste, tudo começou com a rivalidade entre estivadores, simplesmente porque dois estaleiros, não tinham o mesmo horário de trabalho e com isso não formavam uma unidade de pensamento. Pronto, o arerê tava formado, uns funcionários fundaram um time e os outros do estaleiro vizinho, outro “team”.

Apesar da proximidade, eles não têm um grande histórico de confronto, muitas de suas brigas são formadas por emboscadas, invasões de pubs alheios com o velho e famoso coquetel molotov. O curioso é que não é comum o uso de armas de fogo nas tais brigas, eles usam da chamada“briga limpa”, no máximo uma arma branca.

Na Inglaterra, dia de jogo, é literalmente o DIA DO FUTEBOL. Começam a bebedeira desde cedo em pubs de suas torcidas, ecoando gritos, hinos e provocações ao rival do jogo. Eles realmente respiram futebol. Desde o lançamento do filme não se enfrentavam e uma guerra pré-anunciada iria acontecer (dessa vez sem o Frodo do Senhor dos Anéis). Reza a lenda que o filme ajudou (e muito) a reatar os ânimos, mas a verdade é que a própria polícia inglesa não deu muito bola pro clássico, logo a Inglaterra que hoje é o parâmetro de organização e segurança com rigidez em suas punições.

A junção do passado histórico, mais incentivo do filme, adicionado há quatro anos sem confronto, um emocionante 3x1 pro mandante West Ham (com prorrogação e tudo), restou: pancadarias antes e durante o baba (pra quem não for baiano, baba é a famosa pelada descontraída, que pelada descontraída não é uma mulher nua bem à vontade), um homem esfaqueado e invasão a cada gol do West Ham, o último gol com mais de duzentos fanáticos em campo.

A verdade é que os instintos primitivos do homem falam mais alto com certos estímulos. Agora um papo direto com o mundo masculino. Qual é o homem que nunca teve vontade de brigar ou praticar uma luta, depois de assistir Clube da Luta? Pois é, meu amigo leitor (e porque não leitora?), se você for daqueles que se deixa dominar pelo instinto mais primitivo, nem ouse assistir o filme, você pode ser o próximo a entrar nas estatísticas de violência do futebol brasileiro.

Notícia e imagens da confusão no clássico:

http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/ingles/0,,MUL1280349-9847,00-CLASSICO+LONDRINO+TERMINA+COM+PANCADARIA+E+UM+HOMEM+ESFAQUEADO.html

Vídeo da confusão antes e durante o jogo:

www.youtube.com/watch?v=LKBPeLfnCSQ&feature=related

Trailler do Filme Green Street Hooligans:

www.youtube.com/watch?v=EAe-1Lv1KYU&feature=player_embedded

16 comentários:

  1. Interessante seria falar como algumas coisas que ocorreram no filme citado no texto...

    mas o texto está interessante como um todo

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  2. Interessante o link de informacoes..
    mas é foda futebol é otimo mas gera e mta violencia :T

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  3. informaçoes muito interessantes, lukete!
    o filme é muito bom tmbm.

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  4. Diferente do Brasil, onde marginais se escondem por trás de torcidas organizadas e não possuem nenhuma ideologia e querem apenas fazer baderna, os torcedores europeus tem o futebol como uma verdadeira religião e são, efetivamente, apaixonadas por seus clubes de maneira quase q hereditária, além da questão política corretamente abordada no texto.
    Quanto ao instinto destrutivo e assassino, realmente todo ser humano o tem, ele é apenas aflorado ou não e usado correta ou incorretamente.

    Parabéns pelo texto, inovador no blog uma vez que, diferente dos outros, possui um estilo mais informativo. Pra quem gosta de futebol é um prato cheio !!

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  5. Excelente a proposta desse texto. As informações colocadas aqui, com toda certeza, a maioria de nós não conhecíamos.
    Posso até parecer um velho em meu discurso, porém, defendo o estádio de futebol como um lugar para a família. Claro, não só para a família, mas para o povo que vibra, grita, torce, fica feliz e triste por seu time.
    Eu mesmo, quando pequeno, ia com meu pai à Fonte Nova, ver o Vitória jogar, foi assim que aprendi a gostar de futebol... Por isso, é preciso respeito a tudo que se refere à arte da bola!
    Aliás, cadê a educação do povo baiano? Da torcida baiana especificamente, que destruía o banheiro da fonte, que sobe nas cadeiras de Pituaçu, à ponto de quebra-las...
    No mais, a ousadia de informar e entreter são características latentes nos escritos. Parabéns!

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  6. Lucas, muito bom esse texto,
    como adoro futebol, posso dizer que fiquei vidrara nele! hehehehe

    Sou totalmente contra a violencia, mas confesso que o futebol deixa muita gente 'fanatica' de cabeca quente, quando seu time nao ta em boa fase, e acabam cometendo atos impensaveis, gerando confusoes e tal... as TO's que o digam ne, com suas ideologias..

    Enfim, aprendi muita coisa com esse texto.. adorei mesmo.. hehehe

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  7. Não sou muito fã de futebol, mas qualquer oportunidade que tenho, assisto! E vamos convir que torcer é algo que nos deixa extasiados; o que falta é abandonar essa mentalidade alienada de alguns e fazer do esporte algo realmente prazeroso, deixando de lado esse "instinto destrutivo", como referiu-se Joao Carlos Lopes, logo acima!
    Quanto ao texto... Gostei muito Lucas! Como sempre, né?! Muitas informações interessantíssimas!
    Parabéns!
    Abraço!

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  8. Acho que a culpa de todas essas brigas, guerras, lutas, combates e pega pra capa são dos videogames, filmes e mídias em geral, que deixam explicitas cenas de atrocidades e violência, além de nos permitir comandar esses mesmos atos de insanidade e crueldade contra a sociedade. Como dizia é... n lembro quem, “O que os olhos não vêem o coração não sente”.

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  9. Belo texto Lucas. Lá não se vê o que acontece aqui: Baiano torcendo pra sulista só para aumentar sua auto-estima, mesmo que não tenha identificação alguma com o clube de fora. Gostei do paralelo feito com o nosso futebol baiano, afinal o jahia se encaminha para a terceira tb!
    Rs.

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  10. Excelente texto, Lucas.

    Você esqueceu do glorioso clássico do intermunicipal pojuca(proxima a regiao metropolitana de ssa) e conceição de coité(sertão baiano). Derby motivador de sentimentos hostis nos povos das respectivas cidade gerados pelo sentimento de pertencimento.

    Concordo com João. Aqui se briga por molequeira e badernagem. Na europa briga-se pela ideologia.

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  11. há uma lenda de uma cidade que foi eliminada do mapa, aqui mesmo no interior da bahia, por conta de um genocídio ocasionado por uma verdadeira guerrilha de rúbrigans. era o time do barranco da espichadeira versus a seleção do bairro do corante.

    toda a população local se encontrava enquadrada no perímetro do campo de terra e da pracinha do coreto, que ficava logo ao lado.

    chegando ao final do jogo, 18 x 13 para a seleção do bairro do corante, sêo neto toba, aparentemente cartola do time do barranco (ou seria seu torcedor mais fanático, quem sabe?), pega a carabina e acerta um balaço na testa de cocada, artilheiro da seleção do bairro do corante.

    depois disso, foi só poeira, que por sua vez só se assentou depois de não haver sobrado mais ninguém em pé... apenas as traves aguardando o rolar da bola (estourada num pipoco de bala).

    lenda verídica.

    gostei muito do seu texto e vou visitar o blog com freqüência.

    abraço.

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  12. Não perdeu a oportunidade de alfinetar o Jahia.

    Muito bom mesmo!

    "A Lazio tem raízes fascistas, seu mais ilustre torcedor é nada mais e nada menos que Benito Mussolini."

    Nós tinhamos ACM " Toinho mavaldeza." Neste aspecto não ficamos devendo nada a Lazio.

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Abraços!

    André Camilo

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  13. A questão das brigas lá em bem diferente das daqui. Especificamente os Hooligans, como foi dito no texto, são jovens de classe média que aparentemente não teriam motivo algum pra se envolverem nesse tipo de coisa. A rivalidade chega a ser uma questão meio que cultural, passada até de uma geração pra outra. Talvez por isso acho que lá seja mais difícil de acabar com esses tipos de coisas, mesmo sendo em países bastantes desenvolvidos como é o caso da Inglaterra, um exemplo mundial quando o assunto é segurança.
    Infelizmente futebol em alguns lugares aqui do Brasil está deixando de ser um lazer para a familia nos finais de semana por conta dessa violência entre torcidas rivais. A rivalidade sadia é boa e importante para o futebol mas quando descamba pra violência providencias tem que ser tomadas.

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  14. Lucas meu caro, meu parabéns! Voce abordou nesse texto muitas coisas interessantes, coisas que muita gente concerteza nem sabia... Concordo em numero, genero e grau, contudo acho uma pena que seja assim no Futebol, se tratando de violencia, ele é um dos mestres promissores, de qualquer forma, temos que fazer nossa parte e lutarmos para que isso nao se torne mais banal do que já é. Tenho dito: Parabéns!

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  15. Lucas você e seus amigos escrevem muuuuito bem, mas esse negócio de futebol, ainda mais sobre história...MUITO CHATO kkkkkkkkkk. bjs

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  16. hooligans vai morrer aq no brasil em 2014!!...hahahahahahaha....vamos esmagalos

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